Não diz o suficiente, mas o que diz é bom. Refiro-me às reflexões de Ralph Waldo Emerson a respeito do sucesso:
“Como medes o sucesso?
Rir com freqüência, e muito; Ganhar o respeito de pessoas inteligentes e o afeto das crianças; Obter a apreciação de críticos honestos e agüentar firme a traição dos falsos amigos; Apreciar a beleza; Descobrir o que há de melhor nos outros; Deixar o mundo um pouco melhor, seja mediante uma criança sadia, uma situação social redimida, ou uma tarefa bem executada; Saber até que outrem recebeu o sopro da vida só porque você viveu — isto é ser bem sucedido.”5
Fiquei impressionado. Aprecio tanto o que deixou de ser mencionado quanto o que está explícito. Emerson jamais se refere a dinheiro, status, posição ou fama. Nada diz acerca do poder sobre as pessoas. Tampouco sobre riquezas. Ou auto-imagem super-intimidativa. Não coloca ênfase em tamanho, números, estatísticas, e tampouco noutros pontos não essenciais, à luz da eternidade.
Leia outra vez essas palavras. É possível que você tenha perdido alguma coisa na primeira leitura. Preste mais atenção, desta vez, nos verbos: “rir… ganhar… obter… agüentar… apreciar… descobrir… deixar… saber…” Ao longo de todo o texto, a ênfase recai em algo fora de nós mesmos, não é? Para mim, esse é o elemento que mais me conforta, dentre todos. Também é uma peça rara, dentre as da literatura que trata do sucesso.
Enquanto vagueio pela propaganda sobre o sucesso que se escreve hoje, noto que a predominância do foco de atenção está no “eu” externo da pessoa — como posso parecer tão esperto, que impressão fantástica eu posso produzir, quanta riqueza consigo acumular e quão totalmente posso controlar as coisas, ou quão rapidamente sou promovido ou… ou… ou. Não consigo ler nada — e quero dizer nada mesmo — que coloque ênfase no coração, no ser interior, na sede de nossos pensamentos, motivações e decisões. Nada, isto é, com exceção das Escrituras.
É interessante que a Bíblia diz muito pouco sobre o sucesso, mas muita coisa sobre o coração, onde se origina o verdadeiro sucesso. Não é de admirar, pois, que Salomão tenha desafiado seus leitores, dizendo:
“Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, pois dele procedem as saídas da vida” (Provérbios 4:23)
Está certo: “guarda o teu coração.” Coloque uma sentinela de plantão. Vigie-o cuidadosamente. Proteja-o. Dê-lhe toda atenção. Mantenha-o limpo. Jogue fora o entulho. É ali, lembre-se, que coisas ruins conseguem esconder-se facilmente, como:
“…maus pensamentos, os adultérios, as prostituições, os homicídios, os furtos, a avareza, as maldades, o engano, a lascívia, a inveja, a blasfêmia, a soberba, e a loucura” (Marcos 7:21-22).
Você sabe, são aquelas coisas que por fim emergem, quando o doce e tirânico odor de sucesso nos intoxica, fazendo que “as fontes da vida” exalem veneno. Como é importante o coração! É nele que se forma o caráter. Só o coração detém os segredos do verdadeiro sucesso. Seus tesouros não têm preço, são inestimáveis — mas podem ser roubados.
Você está guardando seu coração? Diga-o com toda honestidade: você guarda seu coração? As raízes horrendas e venenosas do pecado encontram nutrientes no íntimo de nosso coração. Embora pareçamos bem-sucedidos, ressoemos como bem-sucedidos, falemos a respeito de sucesso, e até nos vistamos para o sucesso, podemos estar, na verdade, à deriva. Podemos estar sofrendo de uma erosão interna daquelas coisas que nossos lábios estão alardeando publicamente. Isto se chama fingimento. Um termo mais severo é hipocrisia… e as pessoas bem-sucedidas conseguem ser tremendamente hábeis nesse jogo. Agradeço ao Sr. Joseph Bayly, já falecido, estas palavras:
“Jesus advertiu seus discípulos: devemos precaver-nos contra a hipocrisia, que é fingir ser algo que na verdade não somos, ou agir com uma máscara cobrindo-nos o rosto. A hipocrisia é um terrível sinal de que há sérios problemas em nosso coração — que só aguarda o dia em que serão expostos. É como John Milton afirmou em Paraíso Perdido: ‘Nem homens nem anjos conseguem discernir a hipocrisia, o único mal que age invisivelmente — exceto Deus’.”6
Os pensamentos de Emerson a respeito do sucesso são profundos; vale a pena memorizá-los. Contudo, esta questão da guarda do coração exige algo mais a ser acrescentado. É essencial que o guardemos — não se trata de algo opcional. Não é fácil guardá-lo. Não se processa naturalmente. Requer honestidade. Exige pureza.
O sucesso pode transformar-se facilmente em fracasso. Basta que baixemos a guarda.
Ser como Cristo. Eis nosso objetivo, com toda franqueza e simplicidade. Parece um objetivo pacífico, relaxante, fácil. Mas, pare um pouco e pense. Ele aprendeu obediência mediante o sofrimento que lhe sobreveio. E assim ocorre conosco. Ele suportou todos os tipos de tentações. E assim as devemos suportar. Nosso alvo é ser parecidos com Cristo. Entretanto, isso não é fácil, tampouco rápido ou natural. É coisa impossível para a carne, demora a acontecer, e é de escopo sobrenatural. Só Cristo pode realizar esse objetivo em nós.
Leia Marcos 7.1-23.